Crônicas de uma ex-adolescente dramática
Manual de sobrevivência emocional para garotas que escrevem
Se você recebeu uma carta minha em 2013… desculpa e de nada.
Eu precisava colocar pra fora. E no fim, acho que é isso que ainda estou fazendo aqui.
Quando eu era adolescente e bater ainda era crime rs, me ensinaram uma prática que até hoje carrego comigo: escrever cartas.
Cartas pra todo mundo. Pro ex que me quebrou o coração, pra amiga que sumiu sem dizer tchau, pro crush que nunca soube da minha existência, pra minha versão de ontem que me envergonha e me comove. Carta de ódio, carta de amor, carta de “fiquei te esperando e você não veio”.
Eu fazia oficinas de escrita naquela época. Era 2012 (ou antes) eu escrevia à mão em folhas de fichário decoradas, usava caneta de glitter com cheiro e lambia os envelopes. Entre um livro de Camões e a dor de um coração, muitas vezes, partido e ansioso, eu só colocava para fora algo que deixava de doer assim que a caneta tocava o papel.
Era quase um ritual secreto: escrever cartas que talvez jamais seriam lidas.
E tudo bem.Talvez até melhor assim.
Porque nem toda palavra precisa de um destinatário. Às vezes, só precisa sair.
Naquela época, houve momentos em que eu mandava as cartas. Em outros, recebia pelo correio. E hoje, eu só escrevo. Para mim. E para você, que me lê aqui.
Aliás, escrever sempre foi minha arma secreta. No Tumblr, eu vendia textão como quem vendia água no deserto e ainda faturava com os desabafos alheios (empreendedora desde cedo). Era tanta sofrência bem escrita que, todo ano, me botavam no correio elegante da festa junina. Eu escrevia cartinhas de amor pra metade do colégio rs, claro que nenhuma era minha e/ou voltava para mim, mas todas eram verdadeiras.
Esses dias, publiquei aqui no Substack uma coletânea chamada Cartas de despedidas invisíveis.
Foi como voltar para aquela adolescente que vivia entre o caderno e o caos, só que com menos drama e mais vocabulário emocional.
Hoje chamam isso de "Carta Aberta" e postam em reels com música folk do Bon Iver.
Mas olha… muito antes de virar tendência, já era terapia.
Escrever cartas me salvou inúmeras vezes.
Quando eu não tinha coragem de falar, eu escrevia.
Quando eu estava com raiva, eu escrevia.
Quando eu precisava me ouvir, eu escrevia.
A carta é o grito abafado que a gente transforma em sussurro.
É o desabafo com vírgulas, é a briga sem plateia.
É o “te amo” que nunca vai ser lido mas mesmo assim, precisava ser dito.
Talvez esse seja o segredo:
a gente escreve não pra ser lida.
A gente escreve pra sobreviver.
Talvez o mundo tivesse menos gente engasgada se todo mundo tivesse escrito suas cartas em vez de engolir os sentimentos com cerveja quente e orgulho.
E você?
Qual foi a carta que você nunca escreveu, mas talvez, ainda precise?
Me conta, se quiser. Ou escreve e rasga. Mas bota pra fora antes que você se acostume a carregar o que nunca deveria ter sido guardado.
Com carinho, aquela que sobreviveu à adolescência escrevendo com caneta perfumada.
Camila.