✉️ Cartas de despedida invisíveis
Capítulo 4: Limpeza de primavera (interna) Porque às vezes, antes de florescer, a gente precisa sacudir a poeira.
Tem dias que começo a limpeza pela casa. Noutros, sou eu quem precisa de arrumação.
Coloco uma playlist leve, acendo um incenso que promete alinhar chakras e rezo — não pras paredes, mas pra mim mesma.
Peço coragem pra desapegar, maturidade pra entender que algumas coisas não voltam e sabedoria pra reconhecer que isso, no fundo, é um alívio.
Começo pelas gavetas.
Tiro tudo, espalho no chão, e olho a bagunça como quem encara um espelho emocional: um monte de coisas acumuladas que não fazem mais sentido. Papéis antigos, roupas que já não me representam, lembranças que gritam mais do que confortam.
E aí vem o clique:
Tem coisa demais aqui. Dentro e fora.
Essa faxina, embora pareça física, é espiritual. É minha alma querendo espaço pra respirar.
Descarto expectativas vencidas que me sufocavam.
Desapego de palavras que doeram e que eu guardei como se precisasse lembrar da dor pra ter certeza de quem sou.
Jogo fora a mania de tentar entender o que não tem explicação e o hábito de me moldar pra caber.
Coloco numa sacola simbólica tudo aquilo que me pesa:
as amizades que deixaram de florescer, os afetos que não regaram de volta, os silêncios que me disseram mais do que palavras.
E ali, no meio do chão da sala, entre panos e cadernos, me pego chorando baixinho.
Não é tristeza — é catarse.
Limpeza profunda. Ritual de encerramento.
Sou escorpiana, afinal.
Nasci pra morrer e renascer mil vezes.
E entre uma morte simbólica e outra, me reinvento.
A cada desapego, uma camada de mim se dissolve.
E o que sobra é leveza.
Espaço.
Vontade de florir.
Porque a primavera não nasce do nada.
Ela vem depois do caos.
Depois da faxina.
Depois da gente decidir que merece mais do que só sobreviver entre os destroços do passado.
Entre cinzas e flores novas,
Camila.